Café Preto

Sabe o reggae brasileiro, aquele estilo quase esquecido e mal-tratado? Pois é, boas novas, direto de Pernambuco: o cantor Cannibal (sim, aquele da banda de punk rock e hardcore Devotos) e os produtores Bruno Pedrosa (sim, aquele do projeto Transformer) e Pi-R preparam-se para lançar “Café Preto” e tudo indica que será um trabalho digno de versão brasileira para o transe jamaicano. Quem está acostumado com aquele vocal que sai das vísceras e cheio de fúria nas músicas dos Devotos, vai ter uma grata surpresa: Cannibal se vira muitíssimo bem e a aspereza do timbre oferece um contraponto interessante às batidas fumegantes. Eles fizeram uma preza em dose dupla para a Radiola Urbana — não só nos apresentaram a primeira faixa do trampo, “Dandara”, como responderam gentilmente algumas breves perguntas por email. Ficou assim:

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Radiola Urbana – Como surgiu a ideia desse “Café Preto”?
Bruno Pedrosa – A ideia foi de Cannibal. Encontrei com ele na rua, mais precisamente no marco zero do Recife. Parei pra tomar uma água de côco, ele me viu e veio conversar. Falou que queria que eu produzisse um disco pra ele. Perguntei se era um disco do Devotos, ele disse que não, que era algo só dele, com uma sonoridade dub, reggae. Topei na hora o desafio.
Cannibal – Sempre fui muito eclético em relação a ouvir música. Tenho meu estilo particular que é o punk rock e hardcore, mas cresci ouvindo vários tipos de música na minha comunidade (Alto José do Pinho – PE). Costumo dizer que o Alto é uma rádio ligada em varias estações, tendo esse cotidiano diário fica impossível você ter preconceitos com música. Do mesmo jeito que tive a influência do Clemente (vocalista da banda Inocentes) para fazer os Devotos, agora tive a influência do HR (vocalista da banda Bad Brains), que tem um projeto solo muito bom, para fazer o “Café Preto”. É totalmente intencional que não pareça em nada com os Devotos: é um brinquedo meu e ainda estou procurando outros modos de me divertir com ele. Sei das minhas dificuldades: não canto bem e ainda não me acostumei com esse timbre de voz, talvez por conta de cantar totalmente diferente com os Devotos há mais de 20 anos. Mas, creiam, estou curtindo muito.

RU – O vocal é realmente muito diferente do que conhecemos do Devotos. Como você chegou nesse jeito de cantar? Veio naturalmente ou tiveram de trabalhar duro nisso?
Cannibal – Estou aprendendo a cantar nesse timbre. Pra mim é muito difícil, tenho muito que melhorar.
BP – Cannibal tem um jeito muito peculiar de cantar, cada faixa do disco é de um jeito diferente. Fizemos as músicas e entregamos a ele, que depois de algumas semanas ouvindo, fez as letras. Não deu tanto trabalho assim, foi até rápido, demorou mais pra fazer as letras do que pra gravar.

RU – Vocês já pensam em como farão shows? Com banda ou DJ e MC?
Cannibal – O disco é todo em cima de bases, é outra coisa que ainda não absorvi, foi difícil para mim gravar as vozes. Faremos com base e com banda, mas daremos total prioridade à banda, me sinto mais à vontade.

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