Retrospectiva 2011
2011 foi intenso! O ano da volta da Radiola Urbana, depois de alguns meses de desesperadora crise de abstinência, foi um período de muita inspiração da música brasileira e de apresentações internacionais históricas, que desembarcaram pela primeira vez no Brasil. Discos, shows, um livro, uma exposição e dois documentários que despontaram neste ano compõem a seguinte retrospectiva que preparamos – sempre sob nossos critérios assumidamente parciais. Não se trata de uma lista de melhores de 2011, mas sim um balanço do que marcou a vida musical da RU nos últimos doze meses. Rebobine, por favor, em ordem alfabética.
1 – Arthur Verocai
Incensado mundialmente pelo histórico disco de 1972, o maestro brasileiro apresentou pela primeira vez o repertório do trabalho em um palco tupiniquim. As apresentações aconteceram no Sesc Pinheiros, nos dias 9 e 10 de abril, com Verocai à frente de uma grande orquestra e participações de cantores como Carlos Dafé, Célia e Danilo Caymmi. Foi uma celebração digna da grandeza da obra do maestro – sampleado à exaustão pelo hip hop norte-americano (Little Brother, MF Doom etc.) e arranjador de infinitas pérolas de intérpretes como Gal Costa, Luiz Melodia, Ivan Lins, Jorge Ben, entre muitos outros. Ouvir a execução ao vivo de joias como “Presente Grego” e “Na Boca do Sol”, com os arranjos fielmente executados como os originais, foi mais que emocionante.
2 – Batidas, Rimas e Vida
A Mostra Internacional de Cinema presenteou os fãs do grupo A Tribe Called Quest com quatro sessões – todas à tarde e durante a semana, mas vá lá – do documentário “Batidas, Rimas e Vida”, de Michael Rapaport. O filme transborda nostalgia dos anos 90, quando os integrantes fizeram história no hip hop com uma sequência de discos não menos que absurda e deixaram pelo menos um título para a história definitiva do gênero – o clássico dos clássicos “Midnight Maurauders”, de 1993. “Batidas, Rimas e Vida” também esclarece porque a convivência entre os integrantes se tornou insuportável: cenas do filme mostram os MCs Q-Tip e Phife, durante uma das duas turnês de retorno do grupo (em 2008 e 2010), em estúpidas discussões por meras questões de ego e ajudam o fã a entender que o fim da ATCQ era mesmo algo inevitável.
3 – Bixiga 70
Por mais suspeita que a Radiola Urbana seja pra falar desta banda, pipocam internet à fora outras inúmeras listas que destacam o primeiro álbum homônimo do combo como um dos destaques de 2011. É mais que justo. Desde a estreia em palco, na Festa Fela 2010, os dez músicos trabalharam incansavelmente em estúdio e palcos para lapidar um conjunto de seis faixas autorais em arranjos que reverberam a influência do afrobeat com um molho brasileiríssimo. “Tema di Malaika” é malandragem e elegância pra balançar nas pistas de dança e “Balboa da Silva” justifica a alcunha – é nocaute para beijar a lona sem remorso. Há ainda a versão providencial para “Desengando da Vista” (do redescoberto Pedro Santos), três dubs a cargo do especialista Victor Rice e a participação na leitura absurdamente original que o cantor e compositor Bruno Morais deu à faixa “O Sorriso Dela” (Roberto e Erasmo Carlos).
4– Black Keys
O Black Keys é uma das bandas de rock da atualidade que ainda consegue surpreender a Radiola Urbana a cada trabalho. Com dez anos de estrada e dez discos lançados no período, surgiu como uma dupla formada pelo guitarrista e vocalista Dan Auerbach e o baterista e produtor Patrick Carney influenciada por e blues. Enquanto o mundo mirava para outra dupla roqueira (White Stripes), a RU se divertia com a crueza dos primeiros discos dos rapazes de Ohio – sempre movido por distorções, bons riffs e versões envenenadas para clássicos dos Beatles, Stooges e Sonics. Zoeira boa pra acompanhar cerveja. Eis que o produtor Danger Mouse (Gnarls Barkley, Beck, Danger Doom etc.) entra na vida dos caras no disco “Attack & Release” (2008) e o som dá uma guinada para algo mais sofisticado, encaminha o duo para um trabalho só com rappers (Talib Kweli, RZA, Mos Def…) em “Blakroc” (2009) e culmina na obra-prima com influência de soul em “Brothers” (2010). Muita expectativa cercava “El Camino” (de 2011) e pode acreditar: o Black Keys (hoje um quarteto, com teclados e baixo) é a banda de rock que você tem de torcer para vir ao Brasil em 2012.
5 – Caçapa
“Elefantes na Rua Nova” é um daqueles discos que deixam o ouvinte intrigado – especialmente aquele pouco familiarizado com a diversidade rítmica nordestina. A audição projeta imagens, estimula associações, parece remeter a algo ancestral e, ao mesmo tempo, tem aquele sabor de mistério – “de onde vem isso?”, “que ritmo é esse?”. Talvez por isso o músico Caçapa tenha batizado cada uma das oito faixas com os gêneros que originaram as fusões: “baiano-rojão”, “coco-rojão”, “samba de rojão” etc. O disco é instrumental, parece bordado de uma colcha de cordas e percussões e sugere uma paisagem com cores nordestinas, caribenhas e africanas. As comparações certamente são desnecessárias e vão variar de acordo com as referências de quem ouve – de qualquer forma, a mente e o ouvido deste apreciador despreparado associam “Elefantes na Rua Nova” ao encontro entre o bluesman norte-americano Ry Cooder com o guitarrista do Mali Ali Farka Touré, no disco “Talkin Timbuktu” (1994): cordas de diferentes afinações e sotaques e as paisagens projetadas são aspectos comuns às duas obras. Ouça!
ELEFANTES NA RUA NOVA – Caçapa (2011) by caçapa
6 – Criolo
Falar o quê? Você já leu, ouviu e sabe tudo sobre Criolo. “Nó na Orelha”, o segundo disco do rapper, é um daqueles fenômenos que atinge a todos – inclusive aqueles que não se identificam com o trabalho e, eventualmente, até se sentem incomodados com o tamanho da repercussão. O repertório é uma coleção de singles que se revezam em diferentes gêneros: tem samba, afrobeat, bolero, reggae e, claro, tem rap. Essa diversidade valoriza o potencial vocal e as ótimas letras do MC, colabora para o crescimento do público e estimula até uma compreensão maior de quem ainda consegue viver imune ao impacto da cultura hip hop. É o disco brasileiro do ano, mesmo que você discorde – e se por acaso esse for seu caso, experimente assistir ao show: se o Criolo não te emocionar com a intensidade que ele mostra ao vivo… Desista!
7 – Daquele Instante em Diante
Se você não viu o documentário sobre Itamar Assumpção, dê um jeito de corrigir isso o quanto antes. Depois da “Caixa Preta” (lançada em 2010, com todos os discos do compositor além de dois inéditos), o filme de Rogério Velloso dá o passo seguinte para dimensionar o artista no contexto que lhe é merecido – entre os melhores e mais autênticos da música brasileira. Obstinado, insatisfeito, envenenado, bendito, erudito e popular: Itamar buscou sempre subverter os padrões para criar algo intenso, com música e poesia se desafiando constantemente. “Daquele Instante em Diante” registra essa inquietação artística em paralelo à vida pessoal, a partir de imagens de arquivos e memórias de músicos, amigos, parceiros, mulher e filhas…
8 – Fela. Esta Vida Puta
Quem acompanha a Radiola Urbana desde 2004 sabe do nosso compromisso em divulgar o afrobeat e a impressionante obra de seu criador – Fela Kuti, o homem de 77 discos gravados, do casamento com 27 esposas e, sobretudo, de um discurso pan-africanista que ecoa até hoje. Por isso, nos encheu de orgulho contribuir para o lançamento de “Fela. Esta Vida Puta”, a biografia do músico escrita pelo cientista político cubano Carlos Moore e lançada no Brasil pela editora mineira Nandyala. O livro, publicado originalmente na Europa nos anos 80, chega ao Brasil no momento em que o afrobeat parece ter finalmente conquistado os ouvidos do público de rap brasileiro e ecoar em alguns dos trabalhos musicais mais instigantes de 2011 – Anelis Assumpção, Bixiga 70, Criolo, Metá Metá… Além da publicação da obra no Brasil, Carlos Moore – morador de Salvador há 15 anos – comemora também o fim de uma briga judicial com o musical da Broadway “Fela!” – que, finalmente, reconheceu a inspiração no livro para conceber o espetáculo. Viva!
9 – Jimmy Cliff
Acredite se quiser, mas o jamaicano Jimmy Cliff lançou um bom disco! Tudo bem que é um EP de só cinco faixas e três delas são versões. Mesmo assim é empolgante ouvir uma das principais vozes do reggae voltar aos bons tempos de 40 anos atrás – quando ele presenteou a música com três discaços: “Jimmy Cliff” (1969), “Wonderful World, Beautiful People” (1970) e “They Harder They Come” (1972). “Sacred Fire” tem produção de Tim Armstrong, do Rancid, e já valeria a pena somente pela ótima releitura de “Guns of Brixton”, do The Clash. Cliff ainda empresta a voz para “Ruby Soho” (Rancid) e “A Hard Rains A-Gonna Fall” (Bob Dylan) e apresenta duas novas composições. Vai na fé, é reggae da pesada.
Guns Of Brixton by Jimmy Cliff
10– Kurt Vile
Kurt Vile é a novidade indie da Radiola Urbana. O compositor e guitarrista norte-americano grava desde 2009 e desde então já tinha Kim Gordon (do Sonic Youth) como uma de suas admiradoras. Mas foi “Smoke Ring For My Halo” (lançado em 2011, quarto disco dele e segundo pelo selo Matador) que abriu nossos olhos e ouvidos para a obra deste músico da Filadélfia. O som está em algum lugar dos férteis campos do folk rock, mas tem uma estética mais contemporânea do que saudosista. A melancolia jorra pelos arranjos, todos feitos basicamente de voz e cordas. Desde a primeira faixa, “Baby’s Arms”, o álbum cativa e pede mais e mais audições. Na estrada, tem o poder de prender a atenção do motorista e levar os passageiros para um transe de sonhos e delírios.
11 – Marginals, Metá Metá, Passo Torto e Sambanzo
Os músicos Kiko Dinucci (guitarra e violão), Marcelo Cabral (baixo) e Thiago França (sax e flauta) foram figuras onipresentes na música paulista em 2011. Juntos ou separados participaram dos elogiados discos de Criolo, Gui Amabis, Pipo Pegoraro e Romulo Fróes e formaram projetos que fizeram a alegria da noite de São Paulo: MarginalS, Metá Metá, Passo Torto (todos com seus primeiros discos lançados em 2011) e Sambanzo – que prepara sua estreia fonográfica para 2012 e protagonizou um shows especialíssimo em dezembro, dentro do projeto Goma-Laca, com vários intérpretes convidados (Luísa Maita, Emicida, Marcelo Pretto, Bruno Morais etc.) e um repertório absurdo, baseado no acervo de discos em 78 rotações da discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo. E não pense que eles soem repetitivos nos diferentes projetos: ao contrário, cada um tem seu foco específico e essa colaboração entre eles oferecem ao público opções em altíssima qualidade em diversos gêneros – samba, canção, jazz, black, afro etc. Todos exalam as cores e odores do asfalto paulistano, mas cada um tem sua identidade própria. E vem mais por aí em 2012!
12 – Mulatu Astatke
Quem viu, sabe: as duas apresentações do gênio etíope Mulatu Astatke foi um ritual de celebração à música criada por ele, o gênero conhecido como ethio-jazz – como ele mesmo explicou em entrevista ao Estado de São Paulo, “uma mistura da música etíope com o jazz (…), um choque das cinco notas dominantes da escala etíope com as doze da escala ocidental”. O maestro veio acompanhado de um septeto de virtuosos – com sax, percussão, piano, cello, baixo, bateria e trompete – que oferecia o complemento ideal às harmonias sugeridas por seu vibrafone climático. Foi emocionante assistir a execuções devotas de arranjos inspiradíssimos de clássicos como “Yèkèrmo Sèw”, “Dèwel”, “Mulatu” e novas composições, como “Motherland”. As apresentações aconteceram nos dias 19 e 20 de março num Sesc Vila Mariana lotado de jovens fãs, que esgotaram os ingressos cerca de uma hora depois do começo das vendas.
13 – Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou
Depois de 20 anos sem gravar, a Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou lançou o disco “Cotonou Club” em 2011 – ano que marca também o relançamento de seu primeiro disco, de 1973. O feito é histórico e marca a definitiva descoberta ocidental desta banda – considerada a mais importante da história de Benin e que nunca havia se apresentado fora da África antes de 2009. De lá para cá, lançamentos de gravadoras como Analog Africa chamaram atenção para esta big band com mais de 100 discos gravados e 40 anos de história. A mistura de funk, ritmos latinos e os toques religiosos africanos resultaram em um som único, hipnótico e altamente dançante – tal qual o afrobeat de Fela Kuti e o ethio-jazz de Mulatu Astatke. “Cotonou Club”, gravado em Paris, reúne músicos originais da banda e tem a participação de integrantes do Franz Ferdinand em uma das onze faixas. Em turnê mundo afora, a Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou já passou pelo Brasil em 2010 e fez show catárticos em Salvador e no Rio de Janeiro, pelo festival PercPan. Ninguém vai reclamar se eles voltarem em 2012.
14 – PJ Harvey
Em 2012, a inglesa PJ Harvey vai completar 20 anos de carreira e chegará lá com o raríssimo feito de atravessar duas décadas em altíssimo nível de produção – que, para boa parte da crítica, alcançou seu auge em “Let England Shake”, de 2011. Há quem possa sentir falta das porradas secas dos primeiros discos, mas a sofisticação do último trabalho é notória e notável. A cantora, compositora e multi-instrumentista lapidou as letras por mais de um ano e essa obsessão esculpiu um lirismo raro – que reflete, de forma ampla e longe do panfletarismo, sobre a guerra e a política. Samples de reggae (“Written on the Forehead”), backing vocals masculinos (“The Words That Maketh Murder”), harpas (em quatro das doze faixas), violinos (“England”) sopros, percussões, melotrons e xilofones colorem os arranjos, incrementam a receita pop – nenhuma das músicas é tocada com guitarra, baixo e bateria – e valorizam a alquimia entre voz, melodia e letras. É impossível adivinhar qual será o próximo passo de PJ Harvey.
15 – Q-Tip
O legado do A Tribe Called Quest para o rap é algo acima de qualquer suspeita e as duas apresentações de um de seus MCs – nos dias 10 e 11 de dezembro, no festival Batuque – mostraram como o repertório do grupo é cultuado pelo público brasileiro. Q-Tip se apresentou com DJ, bateria, guitarra e baixo e mostrou que ainda esbanja recursos para vociferar suas rimas afiadas sem perder o fôlego. Generoso com os fãs, abriu e fechou o show com clássicos da Tribe, cantou músicas dos cinco discos do grupo e não deixou a peteca cair quando enfiou no set list faixas de seus discos-solo “Amplified” (1999) e “The Renaissance” (2008). O Sesc Santo André tremeu.
16 – Queremos Miles
No ano que marcou os 20 anos da morte do gênio Miles Davis (1926 – 1991), as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo tiveram a sorte de receber a exposição “Queremos Miles” – ainda em cartaz na capital paulista até 22 de janeiro, no Sesc Pinheiros. Com um acervo completíssimo (de capas de discos, instrumentos, fotos, partituras, vídeos, cartas, roupas e, claro, muita música), a mostra faz jus à proposta de convidar o visitante a penetrar no universo do jazzista: dividida em salas temáticas que se sucedem por ordem cronológica, ela refaz a trajetória desde à infância em St. Louis e os primeiros contatos com à música nos anos 20 e 30 até seu triunfal retorno nos anos 80, já na condição de pop star. Mas o mais valioso está justamente no miolo deste percurso, entre os anos 50 e 70, quando o trompetista submete o jazz a seguintes reinvenções com discos emblemáticos – todos com merecido destaque na exposição: “The Birth of Cool” (1950), “Kind of Blue” (1959), “Bitches Brew” (1969), “On The Corner” (1972). É parada obrigatória para uma compreensão maior da complexa personalidade de um dos maiores gênios do jazz.
17 – Ron Carter
Além da exposição “Queremos Miles”, o Sesc Pinheiros fez mais para lembrar os 20 anos da morte de Miles Davis: recebeu três noites do show “Dear Miles”, do contrabaixista Ron Carter, nos dias 21, 22 e 23 de outubro. E o músico buscou na ousadia e na imprevisibilidade o atalho para se aproximar da essência transformadora do homenageado. Acompanhado de piano, percussão e bateria, dispensou os sopros e estabeleceu a conexão num plano menos óbvio – sem um trompete que emulasse seus movimentos nem mesmo um repertório que evocasse seus standards. Aos 74 anos e com os dedos cada vez mais íntimos do contrabaixo, Ron Carter optou por um show mais percussivo do que harmônico para homenagear Miles Davis. Ele aprovaria.
18 – The Roots
É difícil acreditar que o The Roots tenha vindo ao Brasil em 2011 como acompanhante de John Legend. Apesar da contradição, a boa apresentação no Urban Music Festival – dia 29 de maio, no Sambódromo – reservou aos fãs alguns momentos em que as coisas entraram no eixo, ou seja, com a banda como protagonista e o cantor no papel de backing vocal. Mas o combo da Filadélfia fez muito mais durante o ano: surpreendeu mais uma vez como banda de apoio, no disco “The Movie”, que recoloca a cantora de soul Betty Wright nos holofotes; lançou o conceitual “undun”, décimo terceiro disco de uma carreira que começou em 1993 e mantém a moral na crescente; pra arrematar, o líder e baterista ?uestlove quebrou tudo numa discotecagem inspiradíssima no Espaço +Soma, um dia antes da fatídica apresentação no Urban Music Festival. O hip hop sempre cresce com o The Roots.
19 – Sharon Jones & The Dap-Kings
Foi um furacão! Os shows da cantora norte-americana Sharon Jones no Brasil deve estar entre as melhores apresentações de soul que o país já viu. A voz e energia desta senhora de 55 anos não acabam nunca e o palco vira uma apoteose sob seu comando. Ela canta além do próprio limite, dança freneticamente sem parar e revive os anos 60 e 70 da música negra com extrema devoção. Os Dap-Kings são um assunto à parte: formada por nove músicos estudiosos de uma estética musical de 40 anos atrás, a banda assimila o aprendizado dentro do contexto atual e aponta para o futuro. Sharon Jones & The Dap Kings fizeram quatro apresentações em junho – duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Salvador – e deram uma senhora aula de soul ao vivo. James Brown ficaria orgulhoso. Sharon Jones ainda registrou em 2011 uma versão de “Wild Horses”, dos Rolling Stones, que talvez seja tão boa ou até melhor que a original. “Talvez”, atenção.
Sharon Jones & The Dap Kings – Wild Horses by paulibaby
20 – Tom Waits
Aos 62 anos, quase 40 de carreira e mais de 20 discos lançados, o velho bardo Tom Waits soa com mais vitalidade do que qualquer Artic Monkeys da vida e coloca 97,3% das novas bandas no bolso traseiro e furado da mais surrada de todas as suas calças de pijama. Sem lançar um trabalho inédito desde 2004, o compositor e cantor norte-americano voltou à ativa com “Bad as Me” – um conjunto equilibrado de 14 faixas e produção mais uma vez dividida com a patroa Kathleen Brennan. Entre baladas singelas e bem-servidos copos de cólera, o timbre único varia entre o gutural de assustar criancinhas com um falsete teatral – tudo emoldurado com a velha imprevisibilidade instrumental (banjos e acordeons dividem a cena com guitarras e pianos), sem qualquer amarra de gênero: do blues ao folk, do jazz ao rockabilly… Ouça “Bad as Me” e viaje por cabarés, espeluncas e salões enfeitados de poeira e fumaça.
(Por Ramiro Zwetsch)