Labuta constante
#AgoraÉQueSãoElas: Debora Pill entrevista Juçara Marçal sobre direitos das mulheres e legalização do aborto, entre outros assuntos: “ainda estamos em situação de penúria no que se refere a direitos da mulher, sobretudo da mulher negra”. A cantora lança nesta semana o vinil do seu disco “Encarnado”, considerado um dos melhores de 2014 e censurado, aliás, no I-Tunes por conta da capa — que exibe uma ilustração assinada por Kiko Dinucci, em que Juçara aparece de peito nu. #foracunha #contraPL5069 #elasporelas
O que você acha desse momento, em que o tema dos direitos das mulheres conquistou um espaço amplo de discussão na opinião pública?
Acho triste, na verdade. Porque essa discussão maior se deu por conta de um retrocesso enorme, no que diz respeito à várias leis já instauradas no país. A labuta é diária. Constante. Mas o aumento da discussão se deu, creio, principalmente pelo passo atrás.
Você se considera feminista?
Se “ser feminista” é estar atenta às armadilhas do mundo patriarcalista em que vivemos, sim, sou feminista. Mas não estou filiada a nenhum grupo específico de mobilização política identificado pela causa feminista. Eu simplesmente exerço minhas funções na música, na educação, no cotidiano com esse olhar atento.
Você é a favor da legalização do aborto? Por quê?
Sim. Porque a decisão de fazer um aborto já é por demais dolorosa. Quando uma mulher chega a essa decisão já está imensamente mortificada e sem saída. Pra piorar, vem uma lei e a coloca também como criminosa. É absurdo. A legalização permitirá que a mulher possa exercer seu direito, diante de decisão tão difícil, de maneira protegida, digna.
Você enxerga algum avanço na questão dos direitos das mulheres em comparação à condição da sua mãe, ou de outra geração anterior, por exemplo?
Sim. Vejo muitos avanços, mas muitos passos a avançar ainda. Falta muito. Ainda estamos em situação de penúria no que se refere a direitos da mulher, sobretudo da mulher negra.
Juçara, Debora e Alisson Louback em uma das passeatas contra a PL5069
Nas turnês que você tem feito, você sentiu algum estereótipo de “mulher brasileira” na pele?
Não. Em todos os lugares fui tratada igualitariamente. Não sei se foi sorte ou se dá pra dizer que na Europa as coisas estão diferentes. Um percurso muito pequeno o que eu fiz, pra afirmar isso. Então só posso dizer mesmo que, no meu caso, me senti totalmente respeitada, como mulher, como artista, como profissional.
Quando você sai de casa e caminha pelas ruas de São Paulo, você se sente livre? Veste a roupa que quer e não se intimida por cantadas?
Sim, me sinto livre. Não recebo cantadas por causa das roupas que uso.
Se você, Juçara mulher de hoje, pudesse dar conselhos pra Juçara menina de 12 anos de idade, que conselhos você daria?
Apenas diria: “faça o que quiser fazer”.
Quais conquistas dos direitos das mulheres você gostaria de ver ainda nessa vida?
A legalização do aborto. O amparo total médico e psicológico a todas as mulheres que precisassem fazê-lo.
Lançamento “in store” de “Encarnado” (Juçara Marçal)
Terça, 10-11, das 18h às 22h
Patuá Discos – R. Fidalga, 516, Vila Madalena
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