Brilho eterno
“Elis & Tom” já era tratado como obra-prima desde seu surgimento e essa aura parece ainda mais cintilante 40 anos depois de seu lançamento. Diante da missão de interpretar esse conjunto de 14 canções no projeto 74 Rotações (sexta, 19 de dezembro, no Sesc Santana), Luciana Alves e Marco Pereira Trio optaram por buscar um brilho próprio: sem o piano tão marcante na gravação, a formação combina a voz com violão, acordeão (Bebê Kramer) e contrabaixo (Guto Wirtti) — mistura instrumental que o violonista Marco Pereira resolveu experimentar inspirado no Trio Surdina, de Garoto, dos anos 50. Em seu extenso currículo, constam gravações com o próprio Jobim além de shows em parcerias com Edu Lobo e Wagner Tiso. Luciana também já dividiu o palco com muitos artistas da geração que fez a diferença na música brasileira nos anos 60 e 70, entre eles Joyce, Johnny Alf, Hermeto Pascoal, Alaíde Costa e Roberto Menescal (o diretor artístico da gravadora Philips à época do lançamento de “Elis & Tom”). Intimidade e respeito com a história, portanto, não lhes faltam — tampouco ousadia. A cantora conversou brevemente com a Radiola Urbana sobre a importância do disco e os desafios do show. Leia!
1) Na sua opinião, o que faz deste disco um dos mais importantes da música brasileira?
Eu acho esse disco um primor do começo ao fim. É, sem sombra de dúvidas, um dos encontros mais importantes da história da MPB, porque são os dois maiores ícones da nossa música. O fato de ser um disco especial, comemorativo pelo sucesso da carreira da Elis na gravadora, já traz um peso diferente pro trabalho. Ela é até hoje considerada uma das maiores intérpretes brasileiras, mas há rumores de que na época se dizia que a Elis tinha muito sucesso mas não tinha “prestígio” no meio, também pelo temperamento, posicionamentos políticos, enfim. O Tom, por outro lado, era o maior nome da música brasileira, com maior prestígio, sucesso e reconhecimento internacionais. É um encontro muito significativo e emblemático que resultou numa obra belíssima e irretocável. Além disso foi um sucesso de venda e crítica e até hoje é lembrado.
2) O que mais te impressiona quando você o ouve?
É perfeito: a escolha de repertório, os arranjos, a execução, a sonoridade e, sem dúvida, as interpretações fazem essas leituras definitivas pra cada uma daquelas canções. Todo mundo conhece e lembra dessas gravações. Elis teve a medida exata entre emoção e técnica; é um disco tão denso quanto fluente, clássico e moderno ao mesmo tempo, muito sofisticado harmonicamente. É um dos meus preferidos, de todos os tempos.
3) Como está encarando a ideia de interpretar o disco?
É um grande desafio! Mas muito emocionante… A ideia de cantar qualquer coisa muito emblemática na voz da Elis, já traz uma enorme responsabilidade. Esse é um repertório bastante denso pra um show, ao passo que tem músicas muito, muito conhecidas, executadas e relidas em todo o mundo! Minha primeira providência foi pensar numa outra sonoridade, nada a ver com o disco, numa formação ousada, pra que a gente possa trazer outras “cores” pra quem vai ouvir, respeitando essa criação tão impecável mas sem a pretensão de copiar ou reproduzir. É uma homenagem de fã, mesmo.
(Por Ramiro Zwetsch)
74 Rotações
De 18 a 21 de dezembro
18/12 – Emicida interpreta “Cartola” (Cartola), às 21h (INGRESSOS ESGOTADOS)
19/12 – Luciana Alves e Marco Pereira Trio interpretam “Elis & Tom” (Elis Regina e Tom Jobim), às 21h
20/12 – O Terno interpreta “Lóki?” (Arnaldo Baptista), às 21h
21/12 – Los Sebosos Postizos interpreta “Tábua de Esmeralda” (Jorge Ben), às 18h (INGRESSOS ESGOTADOS)
Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia), R$ 8 (comerciário) / a partir do dia 09-12, às 18h (online) e do dia 10-12, às 17h30 (nas bilheterias da rede Sesc).
Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579, (11) 2971-8700
www.sescsp.org.br/sesc