Jazz de terreiro
“Casa do Pai” é a primeira música divulgada do disco de estreia do Letieres Leite Quinteto, com lançamento previsto para junho de 2019. O maestro da Orkestra Rumpilezz assina as composições e arranjos, além de tocar flautas e saxes. Completam a formação: Ldson Gualter (baixo e direção musical), Marcelo Galter (piano), Tito Oliveira (bateria) e Luisinho do Jejê (percussão). Radiola Urbana divulga a faixa com exclusividade — Letieres avisa que ainda falta a mixagem final e que cerca de três minutos da música foram editados. Já é possível perceber, no entanto, como a intimidade do músico com os ritmos afro-brasileiros confere ao trabalho uma abordagem jazzística extremamente autoral. A Orkestra Rumpilezz talvez seja o principal acontecimento da música brasileira recente e o quinteto surge para expandir essa força criativa em uma outra linguagem. O disco foi gravado em processo totalmente analógico no estúdio Rocinante e será lançado em vinil duplo pela gravadora homônima. Sylvio Fraga é co-produtor do trabalho.
“As composições são de diversas épocas da minha carreira. A grande maioria foi feita exclusivamente pro quinteto. A música que abre o disco, ‘Casa do Pai’, eu fiz para o meu pai biológico — quando ele vira nuvem, faz a passagem. É uma música que a gente tem muito carinho em tocar. Ela tem uma polirritmia interessante porque os músicos tocam em pensamentos rítmicos diferentes”, explica Letieres ao blog. “Uma proposta do quinteto é repetir o que eu já venho fazendo com a Orkestra Rumpilezz, que é trabalhar a questão rítmica com minúcia, sem esquecer das questões harmônicas e melódicas, e trazer a composição para um encontro com os toques ancestrais. É um passo adiante desse projeto grande que envolve a Orkestra Rumpilezz e o Instituto Rumpilezz. No quinteto, por ser um grupo menor, eu consigo experimentar coisas mais avançadas. Muitos dos ritmos são novas percepções de toques que já existiam, recortados, reconstruídos e reeditados pra a partir daí fazer a composição.”
Este blog não consegue imaginar ninguém mais capaz de conceber um jazz brasileiro em sintonia com a trama rítmica dos toques ancestrais. O trabalho do baiano Letieres à frente da Rumpilezz — uma orquestra só de sopros e percussão, já com dois discos memoráveis gravados (“Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz”, de 2009, e “A Saga da Travessia”, de 2016) apresentações que sempre lavam a alma do público — desvendou um raro talento e um parentesco com outros dois maestros e mestres nessa combinação de elementos jazzísticos com a tradição dos ritmos afro-brasileiros: o mineiro Abigail Moura, da Orquestra Afro-Brasileira, e o pernambucano Moacir Santos (a quem a Rumpilezz já prestou tributo, no show em que interpretava o repertório do antológico álbum “Coisas”). Vem coisa muito boa por aí e a gente espera anunciar mais novidades em breve!